quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Ética e responsabilidade social organizacional na suposta era do ser

Sou licenciado em Gestão de Recursos Humanos. Mais um a encher o saco dos desempregados.
Ao longo do meu curso foram-me dados a conhecer diversos conceitos, de entre os quais destaco o de "era do ser" e o  de "ética e responsabilidade social organizacional", por serem estes, essencialmente, os que motivaram esta pequena reflexão.
Perante o contexto em que actualmente vivemos, de uma forma quase instintiva, quase reflexa, concluo o seguinte: os supra referidos conceitos andam de mãos dadas com a retórica, com a demagogia. São matéria para encher páginas de revistas e livros pouco ou nada pragmáticos. São conteúdos somente destinados a fazer engordar cursos e cadeiras magras. São politiquisses fora do seu habitat natural.
"Era do ser"? A era em que os recursos humanos são valorizados como sendo activo organizacional mais valioso? Será mesmo essa a nossa era? Na minha opinião, não, ela ainda está para vir. E não antes do próximo milénio... Para já, contentemo-nos com a "era do eu". A era caracterísitica de quem só sabe olhar para o próprio umbigo. A era a que nos prende a nossa natureza humana. A era em que sempre, desde sempre, vivemos. A diferença é que, antigamente, eramos mais descarados, mais naturais. Hoje, disfarçamos. Continuamos a viver essa era, mas de uma forma hipócrita, escondendo uns dos outros aquilo que quase todos temos em maior ou menor grau: o egoísmo.
"Ética e responsabilidade social organizacional"? É bonita e existe, no papel... De forma involuntária... Desde que isso não signifique perda de lucros... Quando coincide com a satisfação das necessidades de quem dirige as organizações! Primeiro, a responsabilidade pessoal (do empresário). Só depois, esse conceito da moda: a famigerada responsabilidade social.
E àqueles que não concordam comigo, pergunto o seguinte: é no quadro da dita "era do ser" que, as empresas, mal começam a ver o lucro reduzido (diferente de prejuizo), desatam a despedir trabalhadores, não evidenciando o minimo de consideração por um contributo, muitas das vezes, de vários anos? É no contexto dessa era que se continuam a verificar realidades caracterísiticas dos primórdios da industrialização, como por exemplo, o despedimento de trabalhadores para, posteriormente, serem recontratados, como forma de limitar os deveres e obrigações patronais? É segundo princípios de ética e responsabilidade social que as instituições bancárias, de uma forma fria, teimam em aliciar e conceder créditos, por muito que isso prejudique a qualidade de vida de quem os subscreve e suas famílias?

Onde está a valorização do "activo organizacional mais valioso"? Onde se esconde o respeito pelo ser humano e a preocupação empresarial com as comunidades? Ah, já sei! Na admissão de recém-licenciados para estágios curriculares, de forma sucessiva, gratuita, sem qualquer perspectiva de integração, para desempenhar funções de alguém que, caso a lei não permitisse tais abusos, teria de ser remunerado, mas que possibilita ao recém-licenciado uma "aprendizagem em contexto real de trabalho"... Pois.. Que seria dos recém-licenciados sem estas empresas que se preocupam com a sua aprendizagem? Certamente, estariam condenados à ignorância e à incompetência...

É com alguma dor que faço estas constatações. E a crise tem costas tão largas...

Peço desculpa se fui injusto. Reconheço que possam existir excepções. Existem sempre excepções e todas elas confirmam a regra.


1 comentário:

  1. Como ex-recém licenciada não poderia deixar de comentar. Já passei por essa fase em que dei o meu contributo como estagiária a custo zero para a empresa, embora tenha adquirido algum conhecimento na área de contabilidade. Se foi uma mais valia para o meu emprego actual? Não, não serviu de nada uma vez que não consegui colocação nessa mesma áera, mas sim, serviu para me enriquecer a nível pessoal. No entanto, e apesar de estar a trabalhar numa das áreas para a qual me formei, deparo-me com a desvalorização do factor recursos humanos pela minha Instituição e não só! Fazer o quê? Preciso de viver... só me resta sujeitar-me! Afinal, sou somente mais um ser descontente, mais uma gota no oceano.

    Irene Pires

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Os seus comentários são-me importantíssimos! Para que possamos evoluir enquanto seres-humanos, é fundamental ouvir os outros, saber que partilham as nossas opiniões ou, pelo contrário, conhecer perspectivas diferentes das nossas. Neste contexto, ao comentar, está a fazer-me um enorme favor, pelo qual aproveito, desde já, para agradecer!