sexta-feira, 10 de abril de 2009

A razão é o maior inimigo que a fé tem?

Este artigo surge no seguimento do post Convite à irracionalidade.

Nesse post , é mostrada a fotografia de um sinal religioso com a seguinte inscrição: A razão é o maior inimigo que a fé tem.

O tom irónico da publicação Convite à irracionalidade, tendo como objectivo provocar a mente do leitor e, consequentemente, desplotar o debate, não traduz, pelo menos de uma forma clara, o meu posicionamento relativamente ao pensamento constante no sinal religioso em questão. Nesse contexto, e tendo em conta que talvez possa ter sido mal interpretado por alguns, considero da máxima pertinência efectuar a clarificação do meu ponto de vista.

Muitos são aqueles que defendem ser a razão o maior inimigo da fé. Uns fazem-no directamente e de uma forma consciente, outros fazem-no indirectamente, sem se aperceberem, através de ditos, actos, práticas, posturas.

A razão é o maior inimigo que a fé tem? Não me parece!

Uma coisa é dizer que a compreensão de Deus exclui a aplicação de princípios racionais, perspectiva que, sem dúvida alguma, me parece bastante sensata. Outra será remeter para a escolha perigosa entre fé e razão, coisa que não é, de forma alguma, razoável! Por exemplo, eu acredito em Deus porque Ele surge-me como a mais plausível de todas as explicações para coisas tão complexas e tão perfeitas como o Universo, a Natureza, a racionalidade humana. Neste contexto, a minha fé apoia-se na minha razão. É ela que me convida a excluir o acaso e a acreditar em Deus.

A razão não poderá, nunca, ser considerada o maior inimigo da fé! Proferir palavras nesse sentido é algo demasiado forte, demasiado absoluto, demasiado errado, e que remete para uma cegueira insalubre, nociva e nefasta para a sociedade - é bom não esquecer que uma vez cegos, as probabilidades de voltarmos a ver tocam a nulidade. Para sustentar a tese que defendo, convido-vos a reflectir sobre o que poderá ter originado a Inquisição, as Cruzadas ou, na actualidade, sobre o que conduz ao fundamentalismo islâmico.

A razão deverá ser sempre a muleta da fé. Só assim conseguiremos ser tolerantes para com as outras opções religiosas, só assim evitaremos ditos como o preservativo agrava o problema da SIDA, só assim seremos totalmente coerentes ao criticar os fundamentalismos islâmicos.

Concluindo, não pretendendo ser concludente, a fé não deverá excluir a razão. Defender o contrário é sinónimo de falta de informação, de conservadorismo que cega, de pouca ou nenhuma aprendizagem e evolução humana, o que acaba por nos remeter para o questionamento da utilidade da História enquanto ciência - que, supostamente, nos permite conhecer os erros cometidos no passado e, através desse conhecimento, evitar que sejam cometidos no presente.

1 comentário:

  1. Olá!
    Este tema é-me muito caro. Ao ler o texto, lembrei-me das minhas aulas na faculdade,... e de Pascal! Um racional!
    Alguém lhe perguntava porque razão, sendo ele um homem tão racional, ligado às ciências, mesmo assim, acreditava em Deus...
    A resposta, foi curiosa; e passível de reflexão. Algo parecido com isto: Se eu não acreditar em Deus e no dia do Juízo Final verificar que ele existe, terei um grande problema, porque não poderei recompor o meu passado. Se acreditar em Deus, e ele existir, estarei salvo e poderei estar tranquilamente no no hipotético "Reino dos Céus". Por outro lado, se ele não existir, certamente que apenas poderei dizer que fiz o bem e como tal, tudo fica na mesma!!! Apenas para reflectir! Um abraço. Alberto Moreira

    ResponderEliminar

Os seus comentários são-me importantíssimos! Para que possamos evoluir enquanto seres-humanos, é fundamental ouvir os outros, saber que partilham as nossas opiniões ou, pelo contrário, conhecer perspectivas diferentes das nossas. Neste contexto, ao comentar, está a fazer-me um enorme favor, pelo qual aproveito, desde já, para agradecer!